quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Sociologia - Violência, juventude e marginalização

Introdução
A exposição das pessoas ao risco constante de ataques a sua integridade física e moral gera expectativas nas mesmas e, fornece-lhes padrões de respostas. Episódios truculentos e situações limites passam a ser imaginados e repetidos, como uma maneira de preparar o psiquismo para a idéia de que só a força resolve conflitos, tornando a violência um item obrigatório na visão do mundo que nos é transmitida. Cria-se a convicção tácita de que o crime e a brutalidade são inevitáveis, e que a pessoa deve estar preparada para eles e para reagir em conformidade. Esta familiarização com a violência, torna-a nosso cotidiano, um acontecimento corriqueiro, cuja proliferação indiscriminada mostra que as leis perderam o poder normativo e os meios legais de coerção, a força que deveriam ter e, nesta lacuna, vicejam, indivíduos e grupos que passam a arbitrar o que é justo ou injusto, segundo visões privadas, dissociadas de princípios éticos validos para todos. O crime é, assim, relativizado em seu valor de infração e os criminosos, ao invés de se sentirem marginais, agem com tranqüilidade, não se julgando fora da lei ou da moral, pois se conduzem de acordo com o que estipulam ser o preceito correto. Disseminam-se "sistemas morais" particularizados, que "legalizam" os atos praticados dentro da ótica moral e ética própria, podendo nelas uma atitude criminosa ser justificada e legitima.
Sabemos que não existe "moral relativa", do ponto de vista de quem a professa, Crença ética é aquela que exige do sujeito uma posição quanto ao certo e ao errado e, no momento em que há duvida sobre o certo e o errado de certa ação, se está alterando os sistemas de crença. Ou seja, o justo e o injusto, o violento e o não violento, o humano e o desumano dispensam fundamentos racionais para determinar o modo como agimos e avaliamos nossas ações. Daí a dificuldade que enfrentamos quando tentamos convencer indivíduos adeptos da violência de que o recurso aos meios legítimos da justiça ainda é o melhor meio que temos de eliminar conflitos.
Em segundo lugar, a cultura da violência, valorizando a utilização da força, constrói uma nova hierarquia moral. O universo social simplifica-se monstruosamente entre fortes e fracos. Quem ocupa a posição de agressor é objeto de temor e ódio por parte da vitima e quem ocupa a posição de vitima é objeto de desprezo e indiferença por parte do agressor. Pouco importam as características físicas, psíquicas ou sociais dos sujeitos. Na montagem violenta o que conta é a força ou a fraqueza de quem ataca e de quem se defende. Nestas circunstancias os apelos humanitários caem no vazio. A lógica da brutalidade nivela por baixo os sentimentos. Termos como compaixão, consideração, culpa ou responsabilidade diante do semelhante desaparecem do vocabulário. A dificuldade de ultrapassar esse tipo de barreira emocional é uma das razões pelas quais se pode assassinar menores, desconsiderando o fato de que são crianças que estão sendo assassinadas.
Em terceiro lugar,na montagem social violenta perde-se pouco a pouco a noção do que é risco real ou potencial. A expectativa do perigo eminente faz com que as vitimas potenciais aceitem facilmente a sugestão ou a pratica da punição ou do extermínio preventivo dos supostos agressores potenciais. Todos se sentem vulneráveis, todos buscam atacar primeiro, todos vivem sob o temor da represália. O clima de insegurança e o vivido persecutório generalizam-se.
Juventude, violência e crime
Alguns anos atrás, a sociedade surpreendeu-se ao descobrir que o crime organizado do Rio de Janeiro, usava as crianças das favelas como "olheiros", dando aviso da aproximação da policia com rojões ou empinando pipas. Mais tarde, sabendo que o Comando Vermelho havia constituído grupos de adolescentes na faixa etária entre 12 e 17 anos, usando-os como "soldados" nos esquadrões de segurança do tráfico, encarregados de tarefas antes confiadas aos adultos, tais como a proteção das "bocas de fumo" e pontos de venda de cocaína, barreiras em ruas e avenidas, patrulhamento das áreas das favelas, o "justiçamento" de delatores e de inimigos e, até, confrontos diretos com policiais, a surpresa tornou-se espanto e revolta.
Acirraram-se as discussões sobre a questão da violência juvenil e as possíveis soluções para a mesma mas, estas enveredam pelo caminho da simplificação inócua: penas mais duras e redução da idade penal. Obviamente, este não é o caminho.
De fato, em uma sociedade em que meninos de oito anos desempenham cargos de vigia ou "avião" dos esquemas de trafico das favelas e morros dominados pelos criminosos, recebendo gratificações que chegam a superar os salários mensais de seus pais, o caminho natural destas crianças é, ao tornarem-se adolescentes, subirem na escala hierárquica do crime, galgando cargos e encargos mais importantes na mesma.
As quadrilhas são, obviamente, parte integrante e preponderante da vida dessas comunidades pobres da periferia, esquecidas pelos poderes públicos, tendo como única presença efetiva dos mesmos naquelas áreas apenas a policia, com toda a carga negativa que esta historicamente representa para as classes menos favorecidas. O poder publico, em tais regiões, parece isentar-se de seu dever como agente cooptador de recursos, de programas sociais, obras de infra estrutura, dentre outras, deixando brechas sociais, que são aproveitadas pelas organizações criminosas para atuarem nessas comunidades como benfeitores, suprimindo uma responsabilidade do Estado. Nestas, graças à astuta e calculada atitude adotada pelos dirigentes, o jovem favelado encontra dinheiro, fraternidade, respeito e ascensão social no ambiente onde vive, tornando-se "alguém" na sociedade local, embora para a sociedade em geral passe a ser um marginal.
Suportes sociais do crime nas comunidades carentes.
A crença de que o controle do crime organizado sobre as comunidades onde se instala é baseada apenas na pressão e intimidação que exerce com o seu poder armado é fácil e cômoda mas, não é verdadeira. Embora realmente conte com um grande "poder de fogo", constituído por armamentos modernos e de alta qualidade, dificilmente superado, ou até mesmo igualado, pelas organizações policiais e, de uma tropa paramilitar considerável (estima-se que no Rio de Janeiro, onde finalmente se admite a existência de um "governo paralelo", apenas o Comando Vermelho possui 12.500 homens em armas, defendendo seus mais de 2000 pontos de venda), o crime organizado, arrima-se em outros dois elementos, tão ou mais importantes quanto a força armada, para determinar a supremacia criminosa.
O primeiro, o poder corruptor, cuja força e atividade são conhecidas a séculos, agindo sempre como um "quinta coluna" dentre as hostes do combate ao crime, e que coloca em cheque todo o aparato político-policial-judicial do Estado e a própria sociedade, agindo de maneira silenciosa e subterrânea, criando áreas de impunidade e invulnerabilidade. Deve-se entender como corrupção não apenas o suborno em espécie, a propina que o traficante distribui a políticos, policiais ou juizes para facilitar sua liberação ou dos seus comparsas mas, também, o favor que é feito ao morador do bairro, a praça de esportes doada à Associação do bairro, as festas e bailes, a ajuda para comprar o gás, a cesta básica ou o caixão. Esta corrupção social apresenta-se, realmente, como o pior tipo de corrupção pois, enquanto na outra se compra e corrompe apenas o individuo, afasta-se o escrúpulo e a honestidade pessoal, nesta se corrompe e compra a própria sociedade, com a propina do beneficio à comunidade, que assim é levada a compactuar com a organização criminosa e a aceitar seus chefes e membros como benfeitores e cidadãos exemplares, tornando-se praticamente cúmplice dos criminosos..
O segundo se trata do componente social, esquecido quase sempre mas, sobremaneira importante para a composição da proteção da comunidade ao bandido. As quadrilhas nascem no seio destas comunidades, e o "soldado", o "olheiro", o "gerente da boca", até o próprio chefe do tráfico na área, são filhos, irmãos, namorados, maridos, ou tem qualquer outro grau de parentesco ou amizade com alguém da favela, geralmente tendo sido criados na mesma, sendo modelo e inspiração para os mais novos. Kemal (1) cita que, " Os bandidos vivem de amor e de medo. Inspirar apenas amor é fraqueza. Quando inspiram apenas medo, são odiados e não tem quem os ajude"
Ora, a ascensão social através do mundo do crime é o caminho, aparentemente certo e fácil, que se apresenta para o jovem favelado, socialmente excluído pela sociedade de consumo do chamado "mundo do asfalto" e, os chefes das organizações, reconhecendo o valor deste sangue jovem, procuram incentiva-los e iludi-los, com a demonstração do status de que desfrutam na comunidade, o poder que exercem de maneira absoluta, determinando a vida e a morte e, principalmente, o usufruto das benesses do consumismo capitalista. Fácil, portanto, seduzir um jovem carente que possui como seu sonho de consumo a posse de um tênis "maneiro", roupas de grife, carro e outras utilidades, mostrando ao mesmo que o dinheiro do crime, embora não possa inseri-lo na sociedade "do asfalto", pode lhe dar um lugar de destaque na da favela. Esta é, de fato a grande "isca", que leva os jovens ao crime.
Carência Famíliar e marginalização do jovem
Segundo Engels, o termo "família" é derivado de "famulus" (escravo domestico), expressão inventada pelos romanos para designar um novo organismo social que surgia entre as tribos latinas ao serem introduzidos à agricultura e à escravidão legal. Esse novo organismo caracterizava-se pela presença de um chefe, que mantinha sob seu controle a mulher, filhos e um certo número de escravos, com domínio de vida e morte sobre todos eles, o pater potestas. Desde então, o termo família tem designado instituições e agrupamentos sociais bastante diferentes, entre si, do ponto de vista de sua estrutura e funções. Tais grupos e instituições, ao longo da história, não tiveram necessariamente a reprodução cotidiana ou geracional como função especifica ou exclusiva e, em muitos momentos, desempenharam simultânea e prioritariamente, funções políticas e econômicas.
De modo geral, a família é unidade de reprodução social e, como tal, nas palavras de Bourdieu (2), "tem papel determinante na manutenção da ordem social, isto é, na reprodução da estrutura do espaço social". Segundo esse autor, a reprodução social representa a transmissão da herança familiar para os filhos mediante difusão de diversos tipos de capital distribuídos do seguinte modo:capital simbólico, capital econômico, capital cultural, capital social e capital escolar, processo por meio do qual se estabelecem vínculos entre gerações. Adotou-se, entretanto, como verdade estabelecida, um modelo familiar baseado na subordinação, poder e obediência, com a autoridade masculina no topo e conseqüentes relações desiguais. Fixou-se o mundo externo como espaço masculino e a casa, como feminino, tendo o homem o papel de mantenedor da família. Ora, esta, entretanto, não mais é a realidade, sendo que os papeis familiares foram embaralhados e trocados pela dinâmica social do século XX. Inobstante, a situação de fato não é bem aceita pela sociedade, que mantém os mesmos padrões anteriores, estandartizando a família no modelo antigo.
Assim, fora desse contexto socialmente aceito, as famílias são consideradas "incompletas" e "desestruturadas" e, responsabilizadas por problemas emocionais, desvios de comportamento do tipo delinquencial. Este modelo imposto pelo discurso das instituições, da mídia e, até mesmo, de profissionais, que é apresentado não só como o "certo" de se viver em família, mas também como valor, é aceito e inquestionado, sendo indiretamente transmitido e captado, o discurso implícito de incompetência e de inferioridade daqueles que não "conseguem" viver de acordo com o modelo. Ao interiorizar esses valores e modelo de organização e conivência as pessoas que não se enquadram neste protótipo tem uma certa tendência a isentar-se do processo de participação por sentirem-se inferiores e incompetentes em relação àquelas que compõem as instituições.
A desqualificação profissional dos pais, geralmente analfabetos, leva-os a serem inseridos na categoria de trabalhadores com baixa remuneração ou sem remuneração fixa, tornando-os, conseqüentemente, não consumidores, numa sociedade que leva em conta o que e o quanto você consome como parâmetro para fixar sua existência e posição social. Esta marginalização dos pais, estigmatiza o jovem, transformando-o em um rejeitado, tanto pela sociedade, que vê nele alguém que não pode consumir, e portanto não existe, quanto pela própria família, que o tem apenas como "mais uma boca" dentro de casa. Como diz CHENIAUX (3) , o jovem, se não contribui para o orçamento familiar com o seu trabalho, passa contribuir com sua ausência, com o que concorda Espinheira (4), "com os baixos salários e o desemprego, as crianças e adolescentes são lançados no mercado informal de trabalho e outros tantos são expulsos ou se exilam de seus familiares por não suportarem a miséria..."
O jovem excluído pela marginalização familiar na sociedade de consumo, passa a ver que a sociedade espera que ele seja um criminoso, por que já o considera um criminoso, devido à sua origem e sua impossibilidade de inserir-se no mercado consumidor, como também adverte Espinheira (5), "Vistos como marginais, disso tem consciência e por isso reafirmam-se como tais, correspondendo em imagem e gestos a forma como são percebidos.". Inicia-se o processo que pode levar o jovem à violência criminosa, passando o mesmo a nutrir sentimentos de revolta e vingança social, terreno fértil e propicio para medrar a semente plantada pelos quadrilheiros, já que, estudos tem demonstrado haver uma ligação direta entre o sentimento de débito social, que lhes é passado pela família e pela própria sociedade, e a violência.
O lado perverso da invulnerabilidade legal
A inimputabilidade legal, que torna o jovem quase inatingível para a policia e o judiciário, transforma-o no "soldado" ideal para o crime organizado, tanto assim que o efetivo de segurança das quadrilhas passou a ser integrado por adolescentes, ágeis fisicamente, destemidos, audaciosos, procurando firmar-se na sociedade e, por isso mesmo, capazes de cometer os mais temerários atos, sem mensurar conseqüências. Se "caírem em combate", podem ser facilmente substituídos e, se forem presos, são recolhidos a instituições especiais de onde, quando não fogem facilmente dias depois, são liberados em pouco tempo e devolvidos as ruas, para continuar o "serviço". A pratica, tem demonstrado que a permanência do jovem nestas instituições é tão inócua quanto a pretensão de que as mesmas sejam locais de "reeducação". Tais instituições são absolutamente ineficazes, face às costumeiras carências infra-estruturais próprias da administração pública, para o fim a que deveriam se destinar, tornando-se, de fato, meros "depósitos humanos" que servem apenas para que os jovens sejam "educados" e "aperfeiçoados" no crime, enquanto aguardam sua volta às ruas..
Obviamente, as vantagens desta mão de obra barata, volumosa e, melhor ainda, impune, são tão grandes que os chefes do crime buscam arregimentar e criar seus grupos desde a idade de sete ou oito anos, incluindo estas crianças no "organograma" da quadrilha, onde poderão prosperar.
Mas, por outro lado, se o torna atraente e cobiçado pelo crime, o escudo protetor legal também expõe o jovem à violência institucional, à sanha violenta e assassina da sociedade. Neste contexto, a presença do jovem no mundo do crime, a pratica de atos violentos que, para o cidadão comum, não são punidos devido ao escudo já referido, cria uma aversão social ao adolescente de rua, ainda que não seja ele infrator, e gera ainda maior marginalização do mesmo, culminando no ponto máximo com a tácita autorização social para o extermínio, sob a égide do venho adágio de que, "bandido bom é bandido morto".
Assim, indivíduos e grupos que, como dito acima, arrogam-se aos papeis de promotor, juiz e carrasco, passam a "justiçar" aqueles que, no seu entendimento, a "falida" legislação não pode alcançar. O extermínio de crianças e adolescentes pobres tornou-se um serio problema social, perpetrado por grupos especializados, em sua maioria constituídos por policiais a soldo de comerciantes mas, também por elementos movidos por sentimentos de vingança, que na maioria das vezes permanecem impunes, graças à hipocrisia da própria sociedade, que os condena em público mas, na sombra, aplaude e nada faz de efetivo para coibi-los e puni-los..
Conclusão
Como conceitua Adorno (6), (...) a violência é uma forma de relação social; está inexoravelmente atada ao modo pelo qual os homens produzem e reproduz suas condições sociais de existência.
As observações aqui efetuadas deixam claro que enquanto a discussão sobre o problema da violência juvenil girar apenas em torno da idade penal não se chegará a qualquer solução pois, não é a idade que torna o jovem mais ou menos violento mas, a carga social que ele e sua família são obrigados a suportar pela exclusão social, que os marginaliza e oprime. Penas privativas de liberdade maiores não são necessárias mas, é preciso que os estabelecimentos de internação passem a ser o que deles se espera e exige a lei, possibilitando a real regeneração do jovem, que muitas vezes entra nos mesmos pela primeira vez ainda em condições de livrar-se do tortuoso caminho do crime, em que a própria sociedade procura joga-lo. Também fica claro que a aura de impunidade legal que lhe é concedida por esta mesma sociedade que o execra, num inexplicável e tortuoso mecanismo de compensação, não o protege mas, ou o joga nos braços do crime ou, no do carrasco.
Assim, projetos sociais que busquem ajudar adolescentes e crianças pobres para evitar seu ingresso no crime e na violência, devem procurar auxiliar a família como um todo e não apenas um individuo pois, somente assim se garantirá que a juventude não continue a ser excluída e marginalizada.

Sociologia - Convivência: A arte perdida

Vivemos um período de grande violência urbana, onde cada vez mais as pessoas se voltam para as suas casas e para a convivência familiar. Ao contrário dos anos 70, quando toda a vida saía do núcleo familiar para a sociedade, para a independência da família, desde meados dos anos 90 as pessoas voltam para as suas casas, restringidos pela violência ou, em uma análise mais profunda, na busca de um "ninho".Então contestamos: na minha família, com tantos problemas que temos, é inconcebível que seja considerada um "ninho". Para contrapor esta afirmação, basta pensarmos quantas vezes discutimos com os nossos pais, com os nossos irmãos, com os nossos filhos e depois de algumas horas, de alguns dias, passa a raiva e o amor incondicional que aí existe volta a florescer. Isto não quer dizer que não encontremos defeitos nos outros. O problema, o que torna difícil qualquer convivência é quando só encontramos falhas no outro e esquecemos de olhar para nós mesmos, de enxergarmos os nossos próprios defeitos para nos trabalharmos e sermos cada dia melhores, mais virtuosos.Nesta convivência temos dois aspectos: primeiro as pessoas esqueceram o que é uma família; o papel de mãe, o papel de pai e o papel de filho. A idéia de direitos iguais trouxe uma convivência entre iguais, e numa convivência entre iguais falta o exemplo, falta o limite, falta a hierarquia dos papéis, necessários não só na família, mas em todos os aspectos sociais. Por exemplo, · mães excessivamente "abertas" deixam de transmitir a sensação de cuidado e aconchego; · pais que possibilitam a compra de todo o objeto desejado para alegrar o filho, depositam na aquisição o poder da felicidade, e impedem a vivência da frustração, tão comum a nossa vida;· filhos que não percebem o limite e a presença dos pais, sentem-se sem a segurança do lar e se "adultificam" para tomar o papel de pai ou de mãe. Com freqüência, estes serão os filhos que chamamos "mal-educados", que não respeitam os pais e que buscam na rua o diferente, ou até, uma segurança para si (mesmo que ilusória).Antigamente a casa era uma fortaleza, um lugar sagrado; os reis morriam para defender os seus castelos e hoje queremos "férias" do nosso lar. Por que? Porque dentro de casa temos que lidar com os nossos próprios "bichos" - não nos comportamos com interesses e então nos deparamos conosco. Assim como nós, o nosso familiar também é mais livre na expressão das emoções e aí vem à tona toda a angústia e os "sapos" que engolimos nas ruas e, manifestando e alimentando apenas aquilo que não queremos, as emoções mais negativas que vivemos no dia-a-dia, não conseguimos ver o que temos de bom. E se em casa, não conseguimos ver o que temos de bom, queremos tirar "férias" da casa.É neste ponto que a família, aparentemente, deixa de cumprir o seu papel de "ninho". É quando tornamos a convivência mais difícil por nos despirmos das máscaras de interesses sociais e aparências para, sem nos darmos conta, nos apegarmos a outras máscaras, de raiva, de inveja, de conflito, de angústia... Chamo esses sentimentos de máscaras, porque se fôssemos de fato olhar para dentro de nós mesmos, perceberíamos o amor que temos no nosso Eu mais profundo, escondido e talvez esquecido pelas circunstâncias da vida, mas que pode sempre ser o inspirador de uma convivência com arte, ou seja, mais bela, mais harmoniosa, geradora de vida e não de morte.

sábado, 4 de outubro de 2008

Sociologia - Autoritarismo e Autoridade

Há, no mundo moderno, um interesse cada vez maior pelas questões geradas pela violência, pela exclusão social e pelo desrespeito ao espaço público. Também na escola esse é um tema central, que preocupa professores e educadores em geral. Fala-se muito que esses problemas estariam ligados a uma ‘crise de autoridade’ na sociedade contemporânea. E, frequentemente, vemos, aqui e ali, alguém afirmar que a solução para esse quadro estaria na existência de um poder mais ‘autoritário’. É necessário discutir profundamente esse tema que atinge a todos. Mas é preciso sempre lembrar: autoridade não pode ser confundida com autoritarismo. Em nome dessa confusão, muitos erros foram e continuam a ser cometidos.A Europa, depois da Primeira Guerra Mundial, assistiu a um período de grandes conflitos. Os valores liberais (liberdade individual, política, religiosa, econômica) começaram a ser colocados em xeque, devido à impossibilidade dos governos fazerem frente às crises econômicas e sociais. O enorme desemprego, a miséria e a desesperança 'minaram' as conquistas democráticas que a sociedade vinha conseguindo.O nascimento do nazi-fascismo, que tanto se refere à doutrina da Itália fascista como à da Alemanha nazista, simbolizaram práticas políticas comprometidas com um regime autoritário, “símbolo da unidade, da força e da justiça”, segundo Benito Mussolini, ditador italiano, fundador do Partido Fascista.Na verdade, o Estado nazi-fascista é a formação de um tipo de Estado autoritário que surge de uma sociedade em crise, na qual a instabilidade aparece sempre como marca.Hoje, setenta anos depois, pode-se identificar na raiz do Estado autoritário fascista e nacional-socialista, os principais componentes de uma ideologia anti-democrática e percebe-se como o discurso do Estado centralizador levou o povo a perder o sentido de Nação e a ver o Estado como finalidade última. Mussolini dizia que “tudo está no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”.O resultado da reunião desses ingredientes foi a Segunda Guerra Mundial, com todos os seus horrores: vinte milhões de mortos, a Europa destruída e um mundo que se perguntava incrédulo como havia sido possível chegar-se a isso.As marcas do autoritarismo, que traumatizaram a sociedade humana, levaram os homens a lutar por formas cada vez mais democráticas de distribuição do poder. Contra as ideologias centralizadoras e autoritárias buscou-se criar organizações internacionais legítimas que pudessem garantir os direitos humanos e as liberdades civis, dentro de um Estado de direito.A tendência que se verificou no pós-guerra e que permanece até hoje no ideário democrático, malgrado algumas exceções, tem sido a busca, a construção de uma Nação na qual os cidadãos elegem seus governantes e participam da condução das questões nacionais através dos seus representantes nos Congressos Nacionais.A legitimidade, conferida pelo voto aos representantes do povo, confere-lhes também autoridade.Pode-se perceber, desde os anos finais do século XX, um interesse crescente da sociedade como um todo, e da educação em particular, por questões que passam pelos problemas causados pela violência, pelo arbítrio, pela exclusão e que estão ligados, sem dúvida, à questão da autoridade e da ética.Incluir essa discussão nos projetos pedagógicos das escolas, em qualquer nível, tem como objetivo a formação do cidadão, o que passa por promover mudanças sociais que devem vir acompanhadas de outras, destinadas a promover mudanças individuais. Segundo Yves de La Taille, isso significa creditar à educação a possibilidade de levar crianças e jovens a "construir valores, a pautar seus comportamentos por regras, a situar-se além e aquém de certos limites", mas a lutar, também, contra a violência, que não se deve somente à falta de valores de algumas pessoas, estando, antes, vinculada à pobreza, à injustiça, ao arbítrio, à exclusão.O papel da educação, seja aquela a cargo da família ou da escola, tem um duplo objetivo: levar crianças e jovens a transpor seus limites pessoais como ser humano, mas a partir de princípios éticos, morais, existenciais que são “normativos”, isto é, criados e impostos pela sociedade.A colocação de limites faz parte do processo educativo e a ausência dessa prática pode gerar uma crise de valores, uma volta ao estágio selvagem em que vale a lei do mais forte.São os pais e os professores, no caso específico da família e da escola, aqueles investidos de autoridade para colocar limites e reforçarem as tendências “pró-sociais” presentes em crianças e jovens, como de resto em todos os seres humanos.Assim, a função de educação, entre outras, é a de levar os educandos a perceberem o que podem ou não podem fazer, o que devem ou não devem fazer, numa dada situação.A autoridade dos pais e dos professores é fundamental para balizar os limites legítimos da consciência humana que devem ser apropriados por todos, inclusive pensando-se no futuro, quando essas crianças e jovens desempenharão o papel de educar outras crianças e jovens e, talvez, o de decidir os destinos da sociedade.Assim - quem sabe? - se estará possibilitando que possam chegar à maturidade, podendo usufruir de uma liberdade consciente.Autoritarismo e autoridade, entendidos nas duas dimensões aqui colocadas, são dois conceitos bastante diferentes. O Autoritarismo está ligado a arbítrio e a práticas anti-democráticas e anti-sociais. Autoridade ao contrário, refere-se a uma prática pró-social, que tem como objetivo levar o ser humano a perceber as normas colocadas pela sociedade, a julgar sua legitimidade e a avançar no sentido de tornar mas humana e mais democrática a vida em sociedade.
(Fundação Darcy Ribeiro)

Autoritarismo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ir para: navegação, pesquisaO autoritarismo é um regime político em que é postulado o princípio da autoridade. Esta é aplicada com freqüência em detrimento das liberdades individuais. Pode ser definido como um comportamento em que uma instituição ou pessoa se excede no exercício da autoridade de que lhe foi investida.
Pode ser caracterizado pelo uso do abuso de poder e da autoridade confundindo-se com o despotismo.
Nas relações humanas o autoritarismo pode se manifestar da vida nacional onde um déspota ou ditador age sobre milhões de cidadãos, até a vida familiar, onde existe a dominação de uma pessoa sobre outra através do poder financeiro, econômico ou pelo terror e coação.
Distinção entre autoritarismo e totalitarismo.
A distinção entre regime autoritário e totalitário é que no primeiro, o Governo não procura controlar a vida privada de seus cidadãos a ponto de torná-los, compulsoriamente, "reeducados" para passar o resto de suas vidas sob o regime.
Nos regimes autoritários da América Latina, havia forte repressão vinda de cima, contra os elementos reputados "dissidentes", mas a população civil era normalmente deixada em paz.
Nesse particular, o autoritarismo de Estado prefere alienar a população, fornecendo-lhe diversões públicas que as distraiam das preocupações políticas. Foi o caso do Brasil, que, durante o período 1964-1985, teve no futebol o centro de suas atenções, especialmente a partir da eleição indireta do presidente militar Emílio Garrastazu Médici, que assentou como ponto de honra obter o tri-campeonato mundial na Copa do Mundo de 1970, vitoriosamente alcançado. A alienação imposta pelo autoritarismo por meio do esporte levou a oposição a parodiar Karl Marx, dizendo que "o futebol é o ópio do povo".
No totalitarismo, o Governo tende a endeusar-se, implantando uma verdadeira ditadura de partido único, confundindo o Partido com o Estado.
Isto nunca se viu na América Latina, com a única exceção do regime de socialismo "foquista" ou "castrista" implantado em Cuba a partir de 1959. Ali, a adoração do povo cubano por Fidel Castro somente encontrou paralelo no fanatismo norte-coreano em torno de Kim Il-Sung e seu filho e sucessor Kim Jong-il.
Este foi também o caso dos regimes comunistas de estilo bolchevique, que procuravam, inclusive, moldar a consciência dos jovens ao modelo imposto pelo regime. Na antiga União Soviética, as escolas primárias ensinavam as crianças a cantar músicas com títulos como "Meu Avozinho Lênine", visando confundir os valores familiares com os valores revolucionários.
Hitler tentou imitar o modelo comunista, com a instituição das "juventudes hitleristas", mas não com o mesmo êxito.
Nos regimes totalitários, toda a iniciativa pessoal dos cidadãos deve ser canalizada para o Estado, que não reconhece a existência de nada que não seja ele mesmo. Esta concepção de governo foi criticada, pelo método de ser levada às útimas conseqüências, na ficcção de George Orwell, que no seu romance 1984, idealizou o regime totalitário do Grande Irmão, que proibia aos seus cidadãos até mesmo o direito de ter amor conjugal uns pelos outros, pois somente se podia amar ao Grande Irmão.

Autoridade
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Autoridade é um gênero ou uma simples fonte de poder. É a base de qualquer tipo de organização hierarquizada, sobretudo no sistema político. É uma espécie de poder continuativo no tempo, estabilizado, podendo ser caracterizado como institucionalizado, ou não, em que os subordinados prestam uma obediência incondicional, ao individuo ou a instituição detentores da Autoridade. Ou seja, a Autoridade transmite a mensagem de ordem sem dar razões ou algum argumento de justificação e os indivíduos subordinados a esta autoridade aceitam e obedecem sem questionar.
Relações de Autoridades
O poder dos pais sobre os filhos na família, o mestre sobre os alunos na escola, o poder de um Chefe de Igreja sobre os fiéis, o poder de um empresário sobre seus funcionários, o poder de um chefe militar sobre seus soldados, entre outros.

Formas de classificação
Segundo Bobbio existem três formas de se classificar o poder da autoridade: primeira é a forma coercitiva onde a autoridade estabelece suas diretrizes baseadas na aplicação de sanções físicas; a remunerativa, onde a Autoridade é baseada no controle de recursos e das redistribuições materiais; e a normativa, baseada na alocação dos prêmios e privações simbólicas.

Autoridade como Poder Legítimo
De acordo com Norberto Bobbio, a segunda e mais comum definição de Autoridade considera que nem todo o poder estabilizado é Autoridade, mas somente aquele em que a disposição de obedecer de forma incondicional se baseia na crença da legitimidade do poder. Ou seja, o poder da Autoridade é considerado legitimo por parte dos indivíduos ou grupos que participam da mesma relação de poder. Nesta concepção a Autoridade tem o direito de mandar e os subordinados o dever de cumprir com as diretrizes proferidas pela Autoridade, portanto, na Autoridade é a aceitação do poder como legítimo que produz a atitude mais ou menos estável no tempo para a obediência incondicional às diretrizes que provêm de uma determinada fonte. Obediência torna-se durável mas não permanente pois de tempos em tempos a legitimidade do poder desta autoridade sofre a necessidade de ser reafirmada.

Relações de Autoridades
Autoridade fundada sobre a legitimidade democrática (renovação do processo eleitoral), autoridade carismática de um chefe religioso (necessidade de ações extraordinárias para garantir que este possui a graça divina), dentre outras.

Abuso de autoridade
É quando alguém resolve abusar do seu poder de autoridade e usar critérios particulares para fazer valer a sua vontade, muitas vezes pessoal e não baseada em critérios justos.
Alguns exemplos podem ser o funcionário público que acha que é dono do espaço público só porque tem autoridade para cuidar do local e é protegido pela lei. Ou quando uma pessoa detentora de autoridade usa critérios baseados em abuso de autoridade e preconceitos. Ou o político que acha que pode tomar decisões de autoridade sem consultar democraticamente o povo que o elegeu, não percebendo que só tem essa autoridade porque foi o povo quem o colocou lá e por conseguinte deve explicações a ele. Tipicamente o abuso de poder é uma forma (seja ela majoritária ou minoritária) de ditadura.

Autoridade no contexto religioso
A questão da autoridade no contexto religioso pode partir da concepção agostiniana da vida monástica e de como o problema do confrontamento dessa vida com a estratificação social e com a autoridade cria uma série de desafios. Ele mesmo era responsável por três monastérios em Hipona e assumia que num monastério todos deveriam compartilhar a vida como um só corpo e coração em busca de Deus. Contudo, Agostinho temia que a vida monástica levasse a uma espécie de "competição ascética". Assim, reconhece que tais comunidades poderiam não funcionar sem uma autoridade central, mas ao menos tempo se essa autoridade central se sobressaísse de alguma maneira, não teríamos mais apenas um corpo, um coração, e as coisas poderiam não funcionar muito bem. Agostinho julgava necessário equilibrar a força da autoridade com as necessidades da comunidade monástica, e tal equilíbrio deveria ser zelado pela autoridade. Um superior deve ser obedecido mas também deve saber perdoar.