quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Sociologia - Convivência: A arte perdida

Vivemos um período de grande violência urbana, onde cada vez mais as pessoas se voltam para as suas casas e para a convivência familiar. Ao contrário dos anos 70, quando toda a vida saía do núcleo familiar para a sociedade, para a independência da família, desde meados dos anos 90 as pessoas voltam para as suas casas, restringidos pela violência ou, em uma análise mais profunda, na busca de um "ninho".Então contestamos: na minha família, com tantos problemas que temos, é inconcebível que seja considerada um "ninho". Para contrapor esta afirmação, basta pensarmos quantas vezes discutimos com os nossos pais, com os nossos irmãos, com os nossos filhos e depois de algumas horas, de alguns dias, passa a raiva e o amor incondicional que aí existe volta a florescer. Isto não quer dizer que não encontremos defeitos nos outros. O problema, o que torna difícil qualquer convivência é quando só encontramos falhas no outro e esquecemos de olhar para nós mesmos, de enxergarmos os nossos próprios defeitos para nos trabalharmos e sermos cada dia melhores, mais virtuosos.Nesta convivência temos dois aspectos: primeiro as pessoas esqueceram o que é uma família; o papel de mãe, o papel de pai e o papel de filho. A idéia de direitos iguais trouxe uma convivência entre iguais, e numa convivência entre iguais falta o exemplo, falta o limite, falta a hierarquia dos papéis, necessários não só na família, mas em todos os aspectos sociais. Por exemplo, · mães excessivamente "abertas" deixam de transmitir a sensação de cuidado e aconchego; · pais que possibilitam a compra de todo o objeto desejado para alegrar o filho, depositam na aquisição o poder da felicidade, e impedem a vivência da frustração, tão comum a nossa vida;· filhos que não percebem o limite e a presença dos pais, sentem-se sem a segurança do lar e se "adultificam" para tomar o papel de pai ou de mãe. Com freqüência, estes serão os filhos que chamamos "mal-educados", que não respeitam os pais e que buscam na rua o diferente, ou até, uma segurança para si (mesmo que ilusória).Antigamente a casa era uma fortaleza, um lugar sagrado; os reis morriam para defender os seus castelos e hoje queremos "férias" do nosso lar. Por que? Porque dentro de casa temos que lidar com os nossos próprios "bichos" - não nos comportamos com interesses e então nos deparamos conosco. Assim como nós, o nosso familiar também é mais livre na expressão das emoções e aí vem à tona toda a angústia e os "sapos" que engolimos nas ruas e, manifestando e alimentando apenas aquilo que não queremos, as emoções mais negativas que vivemos no dia-a-dia, não conseguimos ver o que temos de bom. E se em casa, não conseguimos ver o que temos de bom, queremos tirar "férias" da casa.É neste ponto que a família, aparentemente, deixa de cumprir o seu papel de "ninho". É quando tornamos a convivência mais difícil por nos despirmos das máscaras de interesses sociais e aparências para, sem nos darmos conta, nos apegarmos a outras máscaras, de raiva, de inveja, de conflito, de angústia... Chamo esses sentimentos de máscaras, porque se fôssemos de fato olhar para dentro de nós mesmos, perceberíamos o amor que temos no nosso Eu mais profundo, escondido e talvez esquecido pelas circunstâncias da vida, mas que pode sempre ser o inspirador de uma convivência com arte, ou seja, mais bela, mais harmoniosa, geradora de vida e não de morte.

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